quinta-feira, 6 de junho de 2013

Um Deus que Rejeita Pedidos de Desculpas

“O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração
quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”
(Salmos 51:17).

         Deus não desprezará o coração quebrantado e contrito; ou, em outras palavras, Deus não desprezará o coração arrependido. Em Lucas 15:7, vemos que há alegria nos céus quando pecadores se arrependem. Mas o que é, na prática, esse arrependimento? Biblicamente, “arrependimento” expressa a ideia de mudar de convicção. Em Lucas 3:8-14; Atos 3:19, as Escrituras nos mostram que o arrependimento verdadeiro resultará em mudança de comportamento.  Pessoas que se arrependem de coração devem produzir frutos dignos de arrependimento (Mt 3:8; Lc 3:8; At 26:20).

            O arrependimento não deve ser algo que nós praticamos somente quando fomos chamados à conversão, mas uma prática diária da nossa caminhada cristã, sabendo que todos os dias nós pecamos e ofendemos a Deus e a Sua santidade, sendo assim, precisamos de perdão.

            Porém, na maioria das vezes em que nos deparamos com situações de pecado, o que experimentamos logo após é uma sensação de ‘remorso’, mais como um peso na consciência, que aos olhos humanos pode ser confundido com o arrependimento genuíno, mas aos olhos de Deus, que sonda nossos corações, não tem valor algum.

Vejamos os casos de dois reis, Saul e Davi, igualmente ungidos por Deus, igualmente pecadores, mas completamente diferentes nas suas visões a respeito de Deus e de si mesmos. Ambos afirmaram ter se arrependido de suas ofensas ao Senhor, mas a atitude de Deus em resposta aos dois ‘arrependimentos’ não foi igual: Ele se agradou de um e rejeitou ao outro. Mas por quê?

O meu desejo é que o Senhor fale ao seu coração da mesma forma que Ele falou ao meu.

            SAUL frente à repreensão do SENHOR

Farei um resumo de 1 Samuel 15:1-31, para que possamos nos situar na história que mostra a desobediência de Saul e a sua rejeição:

            O profeta Samuel foi enviado por Deus a Saul para que este fosse ungido rei de Israel. Deus, por intermédio de Saul, iria castigar o povo de Amaleque pelo que eles tinham feito a Israel. O rei Saul foi ordenado pelo SENHOR a ferir totalmente os amalequitas, a destruir tudo o que tivesse em Amaleque e absolutamente nada poupar (v.3). Mas Saul não cumpriu a instrução do Senhor, pelo contrário, ele tomou atitudes diretamente contrárias às ordens de Deus. Ele, juntamente com os seus, destruíram o povo de Amaleque, mas pouparam Agague (o rei dos amalequitas), o melhor das ovelhas, o melhor dos bois, e os animais gordos e os cordeiros. O melhor que havia eles não quiseram destruir totalmente; porém toda coisa vil e desprezível destruíram (v.9) e Saul levantou para si um monumento (assim como Absalão, em 2Sm 18:18, levantou “para si uma coluna”, a fim de que o seu nome fosse lembrado). A partir de então, o Senhor se arrependeu de ter constituído Saul rei (v.11). Esse “arrependimento”, em seu contexto, quer dizer que a rejeição de Saul era definitiva, e nenhuma tentativa para abrandar suas consequências teria sucesso¹. Esse verso não contradiz aquilo que é dito num mais à frente (v.25), que diz que A Glória de Israel (Deus) não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa. O fato é que quando o Senhor toma uma decisão final, ele não pode, como ser humano, ser dissuadido.¹

            Quando o profeta Samuel voltou, Saul lhe disse que havia executado as palavras do Senhor (v.13). A desculpa que o rei usou para o fato de terem poupado os animais, foi que o povo o fez, não ele. Observe: “Respondeu Saul: De Amaleque os trouxeram; porque o povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois, para sacrificar ao Senhor, teu Deus; o resto, porém destruímos totalmente.” (v.15). Saul estava tentando enganar a Deus, a Samuel e a si próprio.

            Saul foi repreendido por Deus através de Samuel. E no verso 23, parte b, o profeta finalmente anuncia o julgamento de Deus contra Saul: “Visto que rejeitaste a Palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.”

            Depois do julgamento, Saul aparentemente se arrepende do que havia feito: “Pequei, pois transgredi o mandamento do Senhor e as tuas palavras; porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz.” Mas este arrependimento foi genuíno? Qual a intenção do rei Saul ao proferir essas palavras? No verso 30, ele volta a dizer: “Pequei”... mas o desenrolar da frase nos mostra a sua verdadeira intenção: “...Honra-me, porém, agora, diante dos anciãos do meu povo e diante de Israel; e volta comigo, para que adore o Senhor, teu Deus.” Fica claro para nós, na segunda confissão de Saul, que a sua verdadeira intenção era obter honra, se livrar do julgamento severo, mas não reconciliar-se com Deus. Em troca, ele “adoraria” ao Senhor.
           
DAVI frente à repreensão do SENHOR

A história do rei Davi é mais conhecida e, para nós, ele pode ter sido um homem muito menos digno de aceitação por Deus que Saul. Davi foi escolhido por Deus, ungido rei, era um homem que temia ao Senhor e tinha comunhão com Ele. Davi foi aquele que foi chamado “homem segundo o coração de Deus” (1 Samuel 13.14) , embora não fosse alguém sem pecado, mas um homem que era impulsionado por seus desejos intensos.

Entretanto, nos nossos dias Davi seria considerado um criminoso. Por quê?  Na realidade, Davi era um homem com um temperamento violento, cheio de vícios de caráter, um homem que era, muitas vezes, cruel e inconsequente. Davi, o mesmo que derrotou Golias, agora tinha cometido adultério com Bate-Seba. O homem que foi ungido por Deus mandou que num combate, Urias (marido de Bate-Seba) ficasse na frente da maior força da peleja, sozinho, para que fosse morto (2Sm 11:15) e assim aconteceu. Com todas as letras ele foi um homicida, ele mesmo matou Urias naquela frente de guerra. Ele o mandou para a morte.

Depois de tantos acontecimentos espantosos, o Senhor enviou o profeta Natã a Davi (2Sm 12:1) e este lhe disse:

“Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. O rico possuía muitíssimas ovelhas e vacas. Mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; do seu bocado comia, e do seu copo bebia, e dormia em seu regaço, e a tinha como filha. E, vindo um viajante ao homem rico, deixou este de tomar das suas ovelhas e das suas vacas para assar para o viajante que viera a ele; e tomou a cordeira do homem pobre, e a preparou para o homem que viera a ele.” 2 Samuel 12:1-4

A Bíblia diz que o furor de Davi se acendeu em grande maneira contra aquele homem e ele disse ao profeta Natã: “Tão certo como vive o Senhor, o homem que fez isso deve ser morto.” (v.5). E Natã o respondeu: “Tu és o homem!” (v.7).

Nesse momento nós vemos Davi proferindo o seu próprio julgamento. Davi tinha tomado a única esposa de Urias e tinha agido tal como o homem rico dessa parábola. Davi merecia morrer! Logo após, vem o julgamento de Deus para Davi: “Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei ao teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol” (v.11-12).

A sentença de Davi estava certa, MAS havia algo em Davi que não houve em Saul após o julgamento: arrependimento sincero. Davi, após cair em si, disse: “Pequei contra o Senhor!” (v.12). E apesar da sentença contra ele ter que se cumprir, o Senhor perdoou o seu pecado e não o matou, mas disse que o filho dele, gerado por Bate-Seba morreria. (v.14-15).

Depois de ter recebido a sentença do Senhor através do profeta Natã, Davi escreve, em minha opinião, um dos mais belos Salmos, o Salmo 51. Neste salmo nós vemos por um pouco aquilo que Deus já tinha visto de antemão, o arrependimento de Davi. Davi reconheceu a grandeza de Deus diante da sua pequenez. Davi olhou para o seu pecado e viu o tamanho da santidade do Deus que é Santo, Santo, Santo! Davi reconheceu que pecou contra Deus, contra Deus somente (Sl 51:4a) e que Ele necessitava da purificação do Senhor (v.7) e do Seu perdão (v.9). E ele diz:

Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário.” (v.10-12).

Lições que podemos aprender com a vida desses dois reis:

O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração. (1 Sm 16:7). Se nós fossemos dar a sentença contra Davi certamente daríamos uma muito mais pesada que a que daríamos ao rei Saul. Mas porque Deus vê o coração, Ele conhece tudo aquilo que tentamos esconder e nos julga de forma justa e reta. Nada passa despercebido aos Seus olhos.

SAUL NOS MOSTRA UM EXEMPLO DE ARREPENDIMENTO FINGIDO (Rejeitado por Deus)

1) Saul não cumpriu as instruções do Senhor, pelo contrário, ele tomou atitudes diretamente contrárias às ordens de Deus. Na concepção de Saul, ele estava fazendo algo que traria mais benefício pra ele. Ele agiu como se ele fosse onisciente, e Deus não. Agiu como se a forma de Deus não fosse tão boa quanto à dele. Quantas e quantas vezes nós não fazemos isso? Quantas vezes preferimos fazer as coisas do nosso jeito, da forma que, a nosso ver, nos trará maiores benefícios e deixamos de lado a instrução do Senhor em tantas áreas da nossa vida? A consequência para Saul foi trágica. É preciso que tenhamos cuidado e atentemos para o que é dito em Is 55:8-9: Que os caminhos e os pensamentos do Senhor são mais altos que os nossos.

2) Saul sempre tinha uma desculpa. Saul culpou o povo, tentando se livrar do castigo. Vimos claramente Saul tentando fugir da responsabilidade, tentando esconder o seu pecado, mas Deus sabia, de antemão, o que ele havia feito. Nós também fazemos isso. Tantas vezes nos pegamos imputando culpa sobre todas as pessoas, menos em nós, como se isso fosse nos livrar de um julgamento. Mas a Palavra de Deus nos diz que ninguém pode se esconder de Deus. (1 Reis 22:34)

3) Saul não se arrependeu genuinamente. Para ele, o mais importante era manter a honra diante do seu povo e, em troca, adoraria ao Deus de Samuel. A partir daqui não podemos nos ver como semelhantes a Saul. Se nos vemos, precisamos correr para a Cruz de Cristo e nos arrepender. Ele não se arrependeu verdadeiramente do que havia feito contra o Senhor. Ainda mais, durante o texto nós vemos que Saul sempre se refere a Deus não como o Deus dele, mas como a [teu] Deus, o Deus de Samuel. Diante disso, podemos pensar que não tinha havido em Saul o primeiro arrependimento, o da salvação. Não podemos esquecer que o Senhor Deus examina os pensamentos e as intenções humanas, e Ele põe à prova os corações (Jr 17:10). Não se engane: Ele sabe se o nosso arrependimento é verdadeiro ou fingido.

DAVI NOS MOSTRA UM EXEMPLO DE ARREPENDIMENTO GENUÍNO (Agradável aos olhos de Deus)

1) Davi ofendeu gravemente a Deus. Por conta das inclinações da sua carne, Davi cedeu à tentação, de forma que cometeu pecados horríveis, principalmente para um ungido do Senhor, que tivera recebido infindáveis bênçãos do Altíssimo. Mas ao ser confrontado pelo Senhor através do profeta Natã, viu o quão desprezível era o que havia feito e que sendo assim, merecia justa condenação, então clamou por misericórdia.

2) Davi prontamente se arrependeu de forma genuína. Essa é uma característica de um verdadeiro cristão que busca entender a Majestade de Deus. Se nós não somos prontos a nos arrepender quando somos confrontados por Deus, pode ser um indício de que não tivemos um primeiro arrependimento, como falado, para salvação.

3) Davi pediu ao Senhor que o purificasse, o perdoasse, e renovasse nele a alegria da Salvação. Que possamos pedir ao Senhor todos os dias para que Ele nos revele nossos pecados e nos repreenda, para que possamos nos arrepender e nos voltar para Deus, a fim de glorificá-Lo para sempre.

 Este é o exemplo que nós devemos seguir!

            Não podia deixar de encerrar esse texto com o mesmo verso que abriu a nossa exposição, umas das últimas palavras do rei Davi nesse tão lindo salmo de arrependimento.

            “O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração
quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”
(Salmos 51:17).
Que nossa oração diária seja semelhante à oração de Davi no Salmo 51.
 Arrependamo-nos!
Letícia Lima

¹ Comentário da Bíblia de Genebra: 1 Samuel 15:29 “não mente, nem se arrepende”. 

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