sexta-feira, 17 de maio de 2013

Todos os que Morreram na Infância são Salvos? Com a Palavra, William Hendriksen


POSIÇÕES ERRADAS

Primeiramente, há o que pode ser chamado de visão prevalecente na Igreja Católica Romana. Esta posição é: todas as crianças não batizadas estão perdidas, no sentido em que, quando elas morrerem, elas entrarão no Limbus Infantum (ou Infantium), um lugas às margens do inferno. O sofrimento delas aqui é negativo, em vez de positivo. Elas sofrem a falta da “visão beatificada”.

Esta posição, embora contendo realmente um elemento de verdade (já que reconhece justamente o fato que a responsabilidade varia de acordo com a oportunidade), está errada em duas considerações, a saber: A) as Escrituras não designam em nenhuma parte tal importância à omissão do batismo; B) não ensinam também em nenhuma parte sobre a existência de um Limbus Infantum.

Opondo-se a isto está a posição dos que sustentam que todos os bebês são “inocentes”. De acordo com este ponto de vista, o “pecado original”, se é que podemos chamá-lo assim, não é sujeito ao castigo sem que haja transgressão real. Visto que crianças pequenas não são capazes de transgredir realmente, mas são inocentes, todas são salvas se morrem na infância. Esta ou algo similar a esta, é a posição de muitos protestantes evangélicos hoje. Como irmãos em Cristo, nós amamos essas pessoas, mas nós não acreditamos que as Escrituras endossem este argumento de sua posição. As crianças também são culpadas em Adão. Além disso, elas não são inocentes (veja Jó 14.4; Sl 51.5; Rm 5.12, 18, 19; 1Co 15.22 e Ef 2.3) Se elas serão todas salvas, esta salvação não terá que ser concedida com base em sua inocência, mas na aplicação do méritos de Cristo para com elas.

A POSIÇÃO OFICIAL DA IGREJA PRESBITERIANA DOS ESTADOS UNIDOS

A Confissão de Fé de Westminster não dá uma resposta clara à pergunta se todos que morrem na infância serão salvos. De fato, a Confissão deixa espaço para a opinião de que alguns poderiam não ser eleitos e, portanto, não serem salvos. Veja isto você mesmo. A Confissão declara: “As crianças que morrem na infância, sendo eleitas, são regeneradas e por Cristo salvas, por meio do Espírito Santo, que opera quando, onde e como quer (Capítulo X, Seção III). Em 1903, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, porém, interpretou este artigo de forma que hoje sabe-se exatamente onde esta denominação se mantém com relação a este assunto. Esta denominação adotou o seguinte Manifesto Declaratório: “A Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América, com toda autoridade, declara como segue... Com referência ao Capítulo X, Seção III, da Confissão de Fé de Westminster, que não é considerado como ensino, que qualquer um que morrer na infância esteja perdido. Nós acreditamos que todos, morrendo na infância, estão incluídos na eleição da graça, e são regenerados e salvos por Cristo através do Espírito Santo, que opera quando, onde e como lhe agrada”.

CITAÇÕES DE OBRAS DE TEÓLOGOS REFORMADOS

Todos que morrem na infância serão salvos. Isto é deduzido do que a Bíblia ensina sobre a analogia entre Adão e Cristo (Rm 5.18-19). As escrituras não excluem qualquer classe de crianças em nenhuma parte, batizada ou não batizada, nascidas em países Cristãos ou pagãos, de pais crentes ou não crentes, dos benefícios da redenção em Cristo.” (Charles Hodge, Systematic Theology, Vol I, 9.26)

O seu destino é determinado independentemente de sua escolha, por um decreto incondicional de Deus, e nenhum ato próprio delas pode suspender sua execução; sua salvação é forjada por uma imediata e irresistível operação do Espírito Santo, antes e à parte de qualquer ação de suas próprias vontades. Isto quer dizer que elas estão incondicionalmente predestinadas para a salvação desde a fundação do mundo.” (B. B. Warfield, Two Studies in the History os Doctrine, p. 230)

A maioria dos teólogos calvinistas sustenta que aqueles que morrem na infância são salvos... Certamente não há nada no sistema calvinista que nos impeça de acreditar nisto; e , até que seja provado que Deus não predestina para a vida eterna todos aqueles que ele agradou chamar na infância, podem nos permitir sustentar esta visão.” (L. Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination, pp. 143,144).

Não obstante, nem todos teólogos Reformados se expressam tão positivamente. Alguns apresentam mais claramente a diferença, segundo eles a veem, entre os filhos dos crentes e todas as outras crianças. “As crianças da Aliança, batizadas ou não batizadas, quando morrem, entram no céu; a respeito do destino das outras, tão pouco nos foi revelado que a melhor coisa que podemos fazer é nos abstermos de qualquer julgamento positivo” (H. Bavinck, Gereformeerde Dogmatiek, 3° ed., Vol IV, p.117, minha tradução).

De forma semelhante, L. Berkhof, embora em completo acordo com os Cânones de Dort com relação à salvação dos filhos de pais piedosos, a quem Deus se agrada chamar para fora desta vida em sua infância, declara, a respeito dos outros, que “não há nenhuma evidência nas Escrituras na qual nós possamos basear a esperança de que... os filhos dos gentios que não tenham alcançado a idade do discernimento sejam salvos” (Systematic Theology, pp. 638-693).

O ENSINO BÍBLICO

A) Se aqueles que morrem em sua infância são salvos, essa salvação não está baseada em sua inocência, mas está baseada na graça soberana de Deus através de Cristo aplicada a eles (Veja o terceiro parágrafo deste texto).

B) O fato de que o coração de Deus não se preocupa só com os filhos dos crentes, mas também com os filhos dos descrentes, e até mesmos com aqueles “que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda”, é ensinado claramente em Jonas 4.11.

C)“O Senhor é bom para todos, e suas misericórdias permeiam todas as suas obras” e “Deus é amor” (Sl 145:9; 1Jo 4.8). É nos, então, permitido concordar com as belas linhas:

Porque o amor de Deus é mais vasto
Que a extensão da mente do homem
E o coração do Eterno
É o mais maravilhosamente amável (F. W. Faber, 1854)

D) As crianças não pecaram de qualquer forma similar aos adultos, que rejeitaram a pregação do evangelho e/ou pecaram grosseiramente contra a voz da consciência;

E) As Escrituras, em nenhuma parte, ensina explicitamente que todos os filhos dos descrentes que morreram na infância são salvos. Embora com base nos pontos B, C e D, uma pessoa possa se sentir fortemente inclinada a aceitar a posição que todas estas são salvas, jamais se pode afirmar que as Escrituras positivamente, e com todas as palavras, declarem isto como verdadeiro.

F) Deus deu ao crente e à sua semente a promessa encontrada em Gênesis 17.7 e Atos 2.38,39, e também 1 Coríntios 7.14. Por isso, os Cânones de Dort declaram que “desde que “Devemos julgar a respeito da vontade de Deus com base na sua Palavra. Ela testifica que os filhos de crentes são santos, não por natureza mas em virtude da aliança da graça, na qual estão incluídos com seus pais. Por isso os pais que temem a Deus não devem ter dúvida da eleição e salvação de seus filhos, que Deus chama desta vida ainda na infância.” (I, artigo 17).

HENDRIKSEN, William. In: A vida futura segundo a Bíblia. Traduzido por Marcus Ferreira.  São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2004. pp. 123-127.


Guilherme Barros

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