terça-feira, 13 de março de 2012

Evangelização e Adoração - Parte I

A primeira pergunta do Breve Catecismo, um dos mais importantes Símbolos de Fé das igrejas que professam uma confessionalidade de base reformada, é a seguinte: “Qual o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”.

                Eis o propósito maior e indesviável para o qual o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus: viver de uma maneira permanentemente agradável ao Senhor, amando-o de todo o seu coração, obedecendo de modo prazeroso todos os seus mandamentos, encontrando, enfim, em seu Criador, a sua completa e suficiente fonte de alegria. Em suma: o homem foi criado para adorar a Deus em todo o seu pensar, sentir e agir.

                Assim sendo e procedendo, o homem seria plenamente feliz, destituído de qualquer modalidade de carência. Isso no plano vertical, num tipo de relacionamento amplamente desimpedido entre e Criador e a criatura. Na outra ponta, no plano horizontal, matizado pelas relações entre as pessoas, a perfeita comunhão entre Deus e o homem desembocaria numa vida comunitária igualmente assentada nos pilares do amor mútuo, da fraternidade recíproca, do carinho mais efetivo, da irmandade mais íntima e indestrutível.

                Contudo, esse jardim de delícias foi um dia manchado pela nódoa terrível do pecado de Adão e de Eva, os quais, depois de darem ouvidos à perversa e diabólica tentação protagonizada pelo terrível adversário das nossas almas, quebraram a ordenança do Senhor, violaram o seu santo pacto, decaíram da graça e, ato contínuo, tornaram-se corrompidos em todas as dimensões constitutivas do seu ser. A esse estado de integral falência moral e espiritual, as Escrituras Sagradas chamam de morte espiritual, depravação radical, desconformidade explícita com a lei de Deus, expressão do seu caráter e da sua perfeita santidade.

                Desse modo, criado para glorificar a Deus com todo o seu ser, desfrutá-lo para sempre, e adorá-lo em espírito e em verdade, o homem, ao pecar, errou o alvo, e ficou destituído da glória e da graça de Deus. Coroa da criação divina, o homem, como conseqüência da cósmica rebelião engendrada contra Deus, foi destronado, destituído da privilegiada condição de mordomo amoroso da terra, ficando, em seguida, subjugado pelo império da abominável idolatria que, daí por diante, passou a conferir régua e compasso ao seu desviante comportamento.

                Na epístola endereçada aos romanos, em seu capítulo introdutório, o apóstolo Paulo discorre sobre algumas das etapas percorridas pelo homem em seu itinerário de gradativo afastamento de Deus. O ponto seminal da argumentação paulina radica nas pressuposições inerentes à revelação natural de Deus, esculpida na admirável e assombrosamente diversificada ordem da criação. Por meio dela, e das impressões digitais de Deus espalhadas em todas as suas vastas latitudes, os homens são todos considerados indesculpáveis, dado que a criação revela os principais atributos de Deus, o seu poder majestoso, o suficiente, enfim, para que os homens reconhecessem o senhorio de Deus, a sua evidente divindade e, desse modo, o adorassem, rendendo-lhe a glória somente a Ele devida.

                Contudo, caminhou noutra direção a resposta dada pelo homem à amorosa revelação de Deus consubstanciada na criação. A corrupção começou na mente do homem, alojou-se no seu coração, infeccionou-lhe vontade, e fez dele uma espécie de contumaz produtor de pecados, sendo uma das suas expressões mais grosseiras a que frutificou no território de uma sexualidade cultivada à revelia do projeto originalmente concebido por Deus; e que tinha, e tem, no par dicotômico e complementar homem vs. mulher a sua expressão mais eloquente.

                Temos procurado demonstrar, ao longo de todo este texto, que, por deliberada e pecaminosa decisão, o homem rejeitou o propósito original para o qual foi criado: “glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”, isto é, desprezou o privilégio de ser um adorador contumaz do seu benfeitor supremo e, em direção contrária, preferiu fazer do pecado a sua cogitação existencial mais acalentadamente perseguida. Que fez Deus, então, diante da ingratidão suprema daquele que se constitui na obra-prima de suas mãos?

A RESPOSTA DESTA PERGUNTA SERÁ DADA SEMANA QUE VEM, NO PRÓXIMO TEXTO DA SÉRIE.

José Mário da Silva
Presbítero da Igreja Central de Campina Grande


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